Respeitai-vos

Muito tempo atrás eu li um texto do Roberto Pompeu de Toledo no qual ele fazia uma pequena distorção de um dos mandamentos fundamentais do cristianismo, querendo adequá-lo à sociedade atual. Em vez de "AMAI-VOS UNS AOS OUTROS", os cristãos (ou adeptos de qualquer outra religião) deveriam pôr em prática o "RESPEITAI-VOS UNS AOS OUTROS". A explicação pra isso é simples: amar alguém é muito difícil; respeitar o outro é menos.

Comecei a pensar nesse texto aí quando li a seguinte manchete: SERVIÇO DE URGÊNCIA 192 É ALVO DE 2,7 MILHÕES DE TROTES. Em outros sites li que chega a 70% a estatística de trotes nesse tipo de serviço. O problema é que muitas vezes quem participa dessa "brincadeira", entupindo linhas telefônicas, obrigando o Estado a usar seu aparato à toa, enfim, desrespeitando quem precisa realmente do 192, são as mesmas pessoas que no dia seguinte reclamam porque o 192 demora a chegar, porque o marido morreu dentro da ambulância por causa da demora e etc. A facilidade que muitas pessoas têm de reclamar sem pensar na origem do problema reclamado me espanta, sinceramente. A falta de respeito nesse caso é grande, e pelo visto não tem prazo pra essa putaria acabar tão cedo.

Outro exemplo: tanta gente reclama de "corrupção", "mensalão", "dólar na cueca", pra citar só alguns clichês que a gente vem ouvindo na mídia há um tempinho, mas se você perguntar pras pessoas se elas devolveriam uma mala encontrada cheia de dinheiro, grande parte das respostas seria, sem dúvida, "TU É ABESTADO, É, ABESTADO?!?!".

E no trânsito? "Meus deus, morre muita gente nas estradas". "Ai minhanossasenhora eu vi uma batida horrorosa ali na Santos Dumont". E a própria pessoa que comenta essas coisas vai dobrando a rua sem ligar a sinaleira, ou então fica parada no meio da rua esperando o filho descer do shopping ou, pior ainda, reclama da lentidão do trânsito mas fica a 200 metros do sinal debaixo de um pé-de-planta pra pegar uma "sombrinha", afinal, ela não é nem igual a essa ruma de abestado que fica aí no meio do sol.

Tudo isso é exemplo de um monte de desrespeitos simples, que a gente vê no dia-a-dia, mas que servem de espelho a muitos, comprovando que no fim nós somos mesmo é individualistas, egoístas, contraditórios ao extremo, e só pensamos no próprio nariz.